Cronologia
Nasceu: 30 de abril de 1897
Faleceu: 5 de novembro de 1983
Filiação: Gaetano Mauro e Teresa Duarte
Natural de Volta Grande /MG
Formação
Engenharia de Minas – Belo Horizonte (incompleto)
Eletromecânica – por correspondência
Atividades
Engenheiro elétrico
Fotógrafo
Cineasta
Membro do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE)
Trajetória de vida
Filho de imigrante italiano e de uma mineira culta e poliglota, Humberto Duarte Mauro foi um dos pioneiros do cinema brasileiro.
Em 1925, Mauro e Cornello compraram uma câmera cinematográfica de 9,5 mm, com a qual filmaram um curta-metragem cômico de apenas 5 minutos de duração. O filme foi mostrado a comerciantes locais, com o objetivo de convencê-los a investir em uma companhia produtora de filmes em Cataguases. Com a participação e o apoio do negociante Agenor Cortes de Barros, conseguiram fundar a Phebo Sul América.
Desde criança demonstrou habilidade manual e interesse pela música, tocando violino e bandolim. Ainda muito jovem, interessou-se pela mecânica e decidiu ingressar no curso de Engenharia em Belo Horizonte.
Um ano depois, voltou para Cataguases, onde trabalhou na instalação de energia elétrica nas fazendas. Fez um curso de eletromecânica por correspondência e logo depois conquistou seu primeiro empreendimento, uma oficina onde construiu o primeiro aparelho de recepção radiofônica da cidade.
Em 1916, mudou-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo de trabalhar numa oficina de enrolamento de motores e transformadores. Paralelamente, foi atleta do Vila Isabel, time de futebol onde foi goleiro, e ainda jogador de xadrez, lutador de boxe e de luta romana.
Em 1918, retornou a Cataguases e, em fevereiro de 1920, casou-se com Maria Vilela de Almeida (Dona Bebê), com quem ficou casado por toda a vida. Nessa época, Humberto Mauro manteve ligações com poetas e escritores modernistas, especialmente com Rosário Fusco, Francisco Inácio Peixoto, Ascânio Lopes e Guilhermino César, integrantes e responsáveis pela edição da Revista Verde, um dos marcos da literatura modernista brasileira, criada em Cataguases após a Semana de Arte Moderna de 1922.
O primeiro trabalho da empresa foi “Na primavera da vida”, dirigido por Mauro. O filme foi premiado como o melhor filme brasileiro de 1927 e apresentou a primeira musa do cinema brasileiro, Eva Nil, filha de Pedro Comello.
Humberto Mauro já tinha 26 anos quando se interessou por cinema. Gostava dos seriados e dos filmes de aventura e imaginava que fazer cinema não era algo tão difícil. Em 1923, adquiriu uma câmera Kodak de seu amigo Pedro Cornello e passou a se interessar por fotografia.
O filme seguinte, “O thesouro perdido”, era um dos preferidos do cineasta. No elenco, além da sua mulher que trabalhou com o pseudônimo de Lola Lys, em sua única incursão cinematográfica, atuou seu irmão Chiquinho, no papel de galã, e o próprio Humberto Mauro, interpretando o vilão. Com o sucesso desse filme, ele pôde ampliar sua produtora, rebatizada de Phebo Brasil.
Passou a desenvolver filmes de acordo com sua visão pessoal. “Sangue Mineiro”, seu último longa-metragem para a Phebo, é considerado sua obra-prima em Cataguases e percorreu todo o país com sucesso de crítica e público. Nesse filme ele deixa de lado a aventura e faz com que os únicos conflitos sejam os do coração.
Com o surgimento da Cinédia, em 1929, ele volta para o Rio de Janeiro e começa a trabalhar com Adhemar Gonzaga, dirigindo as primeiras produções do estúdio, “Barro humano” e 'Lábios sem beijos', mostrando domínio na técnica do cinema falado. No Cinédia seu último trabalho foi “Voz do carnaval”, filme que lançou Carmem Miranda no cinema.
Em 1936, ingressou no Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), fundado por Edgar Roquette-Pinto. Lá realizou mais de 300 filmes documentários.
Nos intervalos de suas atividades no INCE, Mauro filmou os longas-metragens de ficção : “O descobrimento do Brasil”, em 1937, “Argila”, em 1940, e ”O canto da saudade”, seu último longa-metragem, em 1952.
Depois de se aposentar no instituto, realizou, entre os anos de 1952 e 1967, dezenas de curtas-metragens. Mauro também foi ator em “Memória de Helena” (David Neves, 1969); autor dos diálogos em tupi-guarani de “Como era gostoso o meu francês” (Nélson Pereira dos Santos, 1971) e “Anchieta, José do Brasil” (Paulo César Saraceni, 1978); e colaborou no argumento e no roteiro de “A noiva da cidade” (Alex Viany, 1979).
Em 1974, fez seu último curta-metragem, 'Carro de bois' e passou a viver em seu sítio Rancho Alegre, em Volta Grande, onde, após uma forte pneumonia, faleceu aos 86 anos, coincidentemente na data em que se comemora o Dia Nacional da Cultura, do Cinema Brasileiro e do Radioamador.
Citações
“Não sou literato. Sou poeta do cinema. E o cinema nada mais é do que cachoeira. Deve ter dinamismo, beleza, continuidade eterna.”
Humberto Mauro – Jornal do Brasil, RJ, abril de 1973.
'Eu morro, você morre. O cinema brasileiro, não; vai embora.”
Humberto Duarte Mauro –Estado de Minas, BH, novembro de 1983.
Homenagem
Seu nome foi dado a:
Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes – Belo Horizonte / MG
Centro Cultural Humberto Mauro – Cataguases / MG
Av. Humberto Mauro – Cataguases / MG
Cine Humberto Mauro – Piracicaba / SP
Sessão Humberto Mauro no IV Araribóia Cine – Niterói / RJ
Depoimento
“Mauro se pôs a fazer cinema não porque fosse intelectualmente moderno, pois não o era, mas porque possuía o gosto e o talento da mecânica. Inicialmente, foi o lado mecânico da máquina de filmar que o conquistou. O que permitiu a Mauro superar-se intelectualmente foi a alegria criadora do manejo de uma máquina de filmar'.
Paulo Emílio Sales Gomes
Filmografia
Longas-Metragens
1925 - Valadião, o Cratera
1926 - Na primavera da vida
1927 - O thesouro perdido
1928 - Brasa dormida
1930 - Lábios sem beijos
1930 - Sangue mineiro
1933 - A voz do carnaval
1933 - Ganga bruta
1935 - Favela dos meus amores
1936 - Cidade-mulher
1937 - O descobrimento do Brasil
1940 - Argila
1952 - O canto da saudade
1952 - Curtas-Metragens
1945 - Brasilianas: chuá-chuá e casinha pequenina
1948 - Brasilianas: azulão e pinhal
1954 - Brasilianas: aboio e cantigas
1955 - Brasilianas: engenhos e usinas
1955 - Brasilianas: cantos de trabalho
1955 - Brasilianas: manhã na roça: o carro de bois
1956 - Brasilianas: meus oitos anos
1956 - O João de Barro
1958 - São João Del Rei
1964 - A velha a fiar
1974 - Carro de bois
Livros sobre Humberto Mauro
MAURO, André Felippe. Humberto Mauro, o pai do cinema brasileiro. Rio de Janeiro : Editora IMF, 1997.
SCHWARTZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as imagens do Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
SALLES GOMES. Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Editora Perspectiva e Editora da Universidade de São Paulo, 1974.