Com uma admirável decoração rococó, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo marca a presença do Mestre Antônio Francisco Lisboa em Sabará.
Histórico
Na segunda metade do século 18, as Ordens Terceiras de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo se estabeleceram na capitania de Minas Gerais. Os irmãos do Carmo de Sabará eram filiados à Ordem Terceira de Vila Rica, e suas funções religiosas eram realizadas na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em razão do grande número de irmãos filiados em 1761, foi pedido ao Bispo de Mariana a concessão de licença para funcionamento autônomo, apesar da oposição dos irmãos carmelitas de Vila Rica.
No dia 22 de junho do mesmo ano, frei José de Jesus Maria instalou a venerável Irmandade da Ordem Terceira do Carmo da Vila Real de Nossa Senhora de Sabará.
No dia dedicado a Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho de 1673, foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental. O terreno no Morro Cruz das Almas foi adquirido por subscrição pelos irmãos da Ordem.
Arquitetura e Decoração
Para a construção do templo, foi contratado o mestre Tiago Moreira, que também foi responsável pelo projeto da primeira planta. Quatro anos depois, aconteceu a entronização da imagem de Nossa Senhora do Carmo, o que demonstra o adiantado das obras. Em 1771, foram realizadas alterações no projeto do frontispício pelo mesmo mestre Tiago Moreira. Mas Germain Bazin acredita que houve interferências do Aleijadinho: “Tiago Moreira, que devia estar bastante idoso, era um operário moroso, e foi preciso uma intervenção alheia (a do Aleijadinho) para reformar tais planos, precisamente no que se refere ao frontispício”.
Os trabalhos decorativos da portada e do frontão, executados no ano de 1774, são atribuídos a Antônio Francisco Lisboa. São obras de grande apuro técnico, que revelam o estilo do mestre principalmente nas figuras dos anjos e nas elaboradas rocalhas. Segundo Zoroastro Vianna Passos, em sua obra – Em torno da História de Sabará –, a pedra-sabão foi transportada do Brumado, perto do Caraça, pelo carreiro Antônio da Costa Dias, com quem a Mesa do Carmo assinou contrato no dia 4 de janeiro de 1769.
A decoração interior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo é harmoniosa, sendo uma das mais importantes obras do rococó mineiro.
“O coro, de autoria de Aleijadinho, chama a atenção pela sua concepção arrojada, cujas linhas moduladas acentuam o efeito de profundidade e monumentalidade. É guarnecido por bela balaustrada em madeira torneada, com colunas e ornatos dos suportes de gosto rococó“ (IPHAN).
O mestre Antônio Francisco também realizou a escultura dos púlpitos, das balaustradas da nave, as imagens de São João da Cruz e de São Simão Stock, concluídas em 1779, e os dois atlantes, conforme documentos datados de 1779 e 1781.
No púlpito da esquerda, ou “púlpito do Evangelho”, Aleijadinho esculpiu uma cena narrada no Evangelho de São Lucas, no qual Jesus em um sermão diz: “Onde estiver vosso tesouro, lá estará vosso coração”. No púlpito da direita, o chamado “púlpito da Epístola”, a cena retratada é Jesus recebendo água da Samaritana.
No arremate do coro, estão dois belos e fortes atlantes cujos corpos saem de um panejamento em forma de rocalha.
O altar-mor e os dois altares laterais em estilo rococó foram executados por um dos grandes entalhadores de Minas Gerais no século 18, Francisco Vieira Servas.
Pelas belíssimas imagens de São João da Cruz e de São Simão Stock, em tamanho natural, Aleijadinho recebeu 50 oitavas de ouro. De altíssima qualidade e refinamento na concepção e no acabamento, essas esculturas estão entre as melhores do mestre. São João da Cruz pode ser admirado no altar da direita, e São Simão Stock, no da esquerda.
No forro da nave, está a cena sempre retratada nas capelas carmelitas – Santo Elias subindo ao céus em uma carruagem de fogo, sendo assistido por seu discípulo Eliseu. Ao redor da cena, estão vários santos. A pintura foi executada pelo pintor sabarense Joaquim Gonçalves da Rocha entre os anos de 1812 e 1816.
O arco-cruzeiro foi executado em serpentinito, uma variedade de pedra-sabão, e decorado com marmorização azul.
A capela-mor segue o mesmo caráter harmonioso da nave. A pintura do forro da capela-mor, também de autoria de Joaquim Gonçalves da Rocha, retrata a cena de Nossa Senhora entregando o escapulário a São Simão Stock. Nas paredes do presbitério, há uma pintura em tons de azul em uma tentativa de imitação de azulejos.
No altar-mor, está no trono a Nossa Senhora do Carmo, e, nos nichos laterais, Santa Teresa d’Àvila e Santo Elias.
Defronte à Igreja da Nossa Senhora do Carmo, está o Cemitério da Ordem Terceira do Carmo, construído em 1846.
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional.
Registrada no Livro de Belas Artes
Data: 13 de junho de 1938