Havia no arraial de Inhaí, próximo de Diamantina, o costume de conduzir os defuntos em padiola, ou bangüê, entoando-se “cantigas de rede”, adequadas ao ato.
Os mortos eram levados ao cemitério por grupos constituídos de amigos e parentes, quase sempre negros e mulatos, que carregavam o defunto em uma rede, como se usava em todo o interior do país, onde não se encontrava outro meio de transporte.
Ao caminharem, balançando compassadamente o corpo, entoavam melodias características. Á frente do préstito, um crioulo, empunhando o bastão e fazendo trejeitos, puxava a melopéia para os demais que o acompanhavam em coro, repetindo sempre o estribilho, após cada uma das quadras:
Solo - Amigos e companheiros,
Vamos levar este irmão,
Rezando todos contritos
Esta simples oração:
Todos - Padre Nosso, Ave Maria,
Uma reza abençoada;
Se precisar, descançamos
Na primeira encruzilhada.
Solo - Um segura, outro segura
Este corpo com cuidado
Até que o pobre chegue
No lugar determinado.
Todos - Esta estrada não é boa,
Não é de desanimar;
Vamos rezando e cantando
Para Deus nos ajudar.
Solo - Até que enfim nós chegamos
Terminou nossa jornada,
Apesar dos sofrimentos
Que passamos pela estrada.
Todos - Vamos depor este corpo
No lugar que Deus marcou:
Ajoelhemos e rezemos
Pelo pobre sofredor.